segunda-feira, 30 de julho de 2012

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA VIA INTERNET: UMA OPÇÃO PARA A ACESSIBILIDADE AO ENSINO SUPERIOR


Zélia Maria Mirek[1]

Olga Maria Schneider Medeiros[2]

Aírton Pedroso de Morais[3]



Resumo: A Educação a Distância tem sido considerada, atualmente, como uma das mais importantes alternativas ao ensino presencial, começando a despontar no mundo como uma nova modalidade de ensino, devido às suas vantagens, área de atuação e à sua flexibilização, suprimindo lacunas existentes na educação tradicional, principalmente para pessoas que trabalham e estudam concomitantemente. A preocupação da sociedade com a qualidade do ensino, o crescimento da demanda por formação continuada e a constante evolução das tecnologias da informação e da comunicação, colocam a Educação a Distância no centro das atenções. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo estudar as alterações causadas no processo de ensino-aprendizagem, via Internet. Apresenta-se a fundamentação teórica com o embasamento na experiência acadêmica, a Educação a Distância e suas características essenciais. O texto trata de uma pesquisa qualitativa e apresenta resultados parciais, obtidos através da análise dos métodos oferecidos pela Universidade Federal de Pelotas na graduação de LPD fundamentados em fatos vivenciados e amparados nas pesquisas realizadas. As conclusões apontam para a viabilidade das iniciativas de implementação da Educação a Distância com um alto grau de importância considerando-se que essas iniciativas tornarão o acesso à educação superior disponível a um grande universo de interessados, atendendo a crescente necessidade de formação e qualificação de recursos humanos na sociedade atual.



Palavras Chave: Educação a distância; Internet; Qualidade de ensino.

Eixo IV: Perspectivas em EAD.



 


1. Introdução


O mundo contemporâneo apresenta mudanças que afetam todos os setores da sociedade. Apesar da crônica desigualdade social e da elevada concentração de renda revelada pelas estatísticas, o Brasil criou condições para crescer e repartir sua riqueza com mais justiça. O século passado deixou uma lição: a educação é o caminho mais eficiente para o país erradicar ou ao menos amenizar suas chagas sociais. A educação está na pauta das discussões em todos os setores da sociedade.

A auto-aprendizagem é hoje uma necessidade que diversos meios de comunicação possibilitam às pessoas de todas as camadas sociais, seja onde estiverem. Requer autodisciplina e independência no ato de aprender uma vez que o indivíduo é o centro do processo de aprendizagem e, como tal, o seu objetivo determinará a aprendizagem, pois desenvolverá seus estudos conforme o ritmo próprio e o espaço no qual estiver inserido.

A Educação a Distância mediada pelo computador surge como forma de democratizar o acesso ao conhecimento. É através dela que poderemos ampliar a acessibilidade aos cursos superiores oferecidos no Brasil.

O objetivo deste trabalho é realizar um estudo das alterações causadas no processo ensino-aprendizagem tradicional através da viabilidade de implementação de cursos a distância como ferramenta, via Internet, para o acesso ao Ensino Superior.

O modo de investigação que fundamenta este trabalho é caracterizado pela experiência vivenciada no curso de Licenciatura em Pedagogia na modalidade EAD, além de pesquisas sobre a temática. Tais parâmetros servirão de balizadores para a construção dos enfoques que serão tratados na conclusão, porém não são únicos e nem se encerram em si mesmos.



2. Educação a Distância


Inserida em uma sociedade que está mudando as suas formas de se organizar, de produzir bens, de comercializá-los, de se divertir, de ensinar e de aprender, a área de educação está muito pressionada por mudanças, assim como acontece com as demais organizações e é caminho fundamental para a transformação da sociedade.

A Internet tem proporcionado novas oportunidades, bem como alterações em atividade cotidianas, as quais muitos não estão preparados para vivenciar. Simultaneamente ao excesso de inovações tecnológicas, surge uma nova geração que lida com a tecnologia desde seus primeiros anos de vida, consequentemente lidando com novos processos de informação, o que afeta suas estruturas mentais.

Tajra (2002) e Rodrigues (2002) afirmam, respectivamente:

Vive-se um período revolucionário que vai além dos computadores e das inovações na área das telecomunicações. As mudanças estão ocorrendo nas áreas econômicas, sociais, culturais, políticas, religiosas, institucionais e, até mesmo, filosóficas. Uma nova civilização está nascendo, o que envolve uma nova maneira de viver. As tecnologias estão sendo associadas aos computadores, à Internet, às evoluções da microeletrônica e das telecomunicações, mas as novas tecnologias vão além destas. Elas passam pelas formas de se organizar, de pensar, de produzir e de fazer a Ciência”. (TAJRA, 2002, p. 30).

“O modelo tradicional regular de ensino depende da sala de aula, que obriga alunos e professores a se deslocarem para um mesmo espaço físico onde são mantidas as relações de troca e aprendizado. A graduação e a pós-graduação, nesse caso, ficam condicionadas a alternativas do sistema regular”. (Rodrigues, 2002, p. 12).

É nesse contexto que uma parcela de estudantes brasileiros recorre a cursos de Educação a Distância.

As primeiras abordagens conceituais, que qualificavam a EAD pelo que ela não era, tomavam um referencial externo ao próprio objeto como paradigma, pois estabeleciam comparação imediata com a educação presencial, também denominada educação tradicional, convencional, direta ou face-a-face, onde o professor, presente em sala de aula, é a figura central. Somente a partir das pesquisas dos anos 70 e 80, a EAD foi vista pelo que é, ou seja, a partir das características que a determinam ou por seus elementos constitutivos.

Estudos mais recentes apontam para uma conceituação mais precisa do que é Educação a Distância: Processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, no qual os professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente.

Keegan et al. (1991) sumarizam as características básicas que consideram centrais aos conceitos de EAD:

·         Separação física entre professor e aluno, que a distingue do ensino presencial;

·         Influência da organização educacional (planejamento, sistematização, plano, projeto, organização dirigida), que a diferencia da educação individual;

·         Utilização de meios técnicos de comunicação, usualmente impressos, para unir o professor ao aluno e transmitir os conteúdos educativos;

·         Previsão de uma comunicação de mão dupla, onde o estudante se beneficia de um diálogo, e da possibilidade de iniciativas de dupla via;

·         Possibilidades de encontros ocasionais com propósitos didáticos e de socialização;

·         Participação de uma forma industrializada de educação, a qual, se aceita, contém o gérmem de uma radical distinção dos outros modos de desenvolvimento da função educacional.

Geralmente, a opção pela EAD é feita por aquelas pessoas que têm alguma dificuldade de engajar-se em um programa presencial no qual há a necessidade de participar de aulas em horários e locais fixos.

“A comunicação é realizada através de simuladores on-line, em redes de computadores, avançando em direção da comunicação instantânea de dados e voz, imagens, via satélite ou cabos de fibra ótica, com aplicação de formas de grande interação entre o aluno e o centro produtor, quer utilizando-se de inteligência artificial, ou mesmo de comunicação instantânea com professores, tutores e monitores”. (OLIVEIRA, 2005).



2.1 Educação a Distância no Brasil

O uso da Internet na educação superior é recente no Brasil, ao contrário do exterior, onde a oferta de cursos on-line é anterior à década de noventa. No País, a recente disponibilização da Internet para fins educacionais abre a perspectiva da experimentação de novas teorias educacionais e suas respectivas matrizes filosóficas. Existem várias iniciativas de ensino a distância, algumas utilizando vídeoconferência e outras com projetos, via Web. Muitas instituições estão fazendo parcerias com universidades do exterior para trazer tecnologia. É importante observar que a Educação a Distância não pode ser vista como substitutivo da educação convencional, presencial. São duas modalidades do mesmo processo.

Nunes (1994) “enumera rapidamente, alguns campos nos quais o ensino a distância poderá ser utilizado dentro de um programa amplo de prestação de um serviço” que a nacionalidade está a exigir:

·        Democratização do saber;

·        Formação e capacitação profissional;

·        Capacitação e atualização de professores;

·        Educação aberta e continuada;

·        Educação para cidadania.

A EAD não é um privilégio dos paises ricos ou de organizações poderosas. É, na verdade, um dos melhores instrumentos para a inclusão social e para a melhoria quantitativa e qualitativa da educação.



2.2 Um novo modelo educacional

A reengenharia do processo de ensino-aprendizagem se apresenta com roupagem digital, o aprendizado ficou mais independente da sala de aula e do material didático em papel, porém, “o nível de exigência de prazos é idêntico aos dos cursos presenciais. A diferença é que não há horário fixo para estudar”. (Vieira, 2002, p. 104).

Os desafios para a formação educacional são os atributos que definem essa nova sociedade: a virtualidade e a globalidade. A virtualidade para superar as limitações espaciais ou temporais mediante o trabalho em rede. A globalidade como condição para superar as fronteiras institucionais, linguísticas, culturais e nacionais.

“No mundo de hoje, já não temos porque vincular a aprendizagem a uma determinada etapa de nossas vidas e a localização física concreta. Devemos assumir a aprendizagem e a formação como um estilo de vida, de forma permanente. (Taquari, 2003, p. 28).

Não se pode esquecer que por muito tempo o ensino presencial, graduação, pós-graduação e outros, atuaram no modelo tradicional de educação em sala de aula com professor. Quebrar esse paradigma referendado pela Educação a Distância requer atrativos em ambientes digitais que no mínimo possam despertar o interesse do aluno para essa avançada solução pedagógica em educação.

Para Moran et al. (2004) “ao elaborar o projeto que deverá ser discutido e vivenciado com os estudantes, o professor deve apropriar-se de referenciais utilizados na sala de aula e fora dela”.  Cabe ao professor propor aprendizagens colaborativas que avancem no sentido de contemplar recursos inovadores.



2.3 EAD em cursos regulares

O estudante deve ser preparado logo no início do curso para utilizar ferramentas on-line. Desta forma, a universidade reduz o nível de rejeição ao método de Educação a Distância.

Na outra extremidade, os professores devem se acostumar aos recursos de que dispõem para ensinar. Por esse motivo, as instituições investem não apenas em tecnologia, mas em quem sabe usá-la. Daí a necessidade de qualificação de profissionais como uma das principais políticas e estratégias adotadas: capacitação de professores e estudos das verdadeiras necessidades da EAD.

A coordenadora da área Acadêmico-pedagógica da PUC Minas, afirma que:

“Os profissionais advindos do ensino a distância são muito mais disputados no mercado. Existe até a preferência por pessoas que optam pelo curso a distância. O motivo é simples: são alunos com maior autonomia, disciplina e capacidade de interação. Essas competências são apreciadas pelo mercado”. (ARNOLD, 2002, p. 3).



3. Resultados parciais


A utilização adequada das tecnologias disponíveis, aliadas aos meios de comunicação, oferece à educação importantes instrumentos, capazes de contribuir para a melhoria da acessibilidade ao processo de ensino-aprendizagem, resultando impactos que estimulam a criação de novas maneiras de aprender e propiciam o surgimento de novos ambientes educacionais e também colaboram com o desenvolvimento de reflexões mentais, que favorecem a imaginação, a intuição, a capacidade de decisão e a criatividade, fundamentais para a sobrevivência individual e coletiva.

Os obstáculos impostos a um treinamento realizado através Internet no que concerne à comunicação e as suas dificuldades intrínsecas estão relacionadas a uma certa confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações disponíveis, propiciando uma certa dispersão. O aluno deverá possuir disciplina, perfil autodidata e organização para saber diferenciar o que é interessante e não perder tempo com informações pouco significativas. Quanto às comunicações, estas, apesar de algumas melhorias, ainda encontram dificuldades, principalmente de velocidades de transmissão do canal de entrega e são o grande desafio para o sucesso de iniciativas em EAD.



4. Considerações finais

Neste trabalho foram abordadas questões relacionadas a Educação a Distância e sua viabilidade como ferramenta de aplicação para a acessibilidade ao Ensino Superior, utilizando-se da Internet como meio de disseminação. A EAD é uma alternativa tecnológica que se apresenta em nível mundial e, especificamente, na sociedade brasileira, como um caminho privilegiado de democratização do saber. Representa bem o mundo de hoje, no que se refere a sua dinâmica espacial. Vivemos na época das infovias, das infografias e do transporte virtual de sons e imagens através da Internet, que vem se confirmando como importante instrumento de destaque nos cursos de Educação a Distância. Com uma responsável e adequada utilização desse recurso tecnológico e sem ignorar as dificuldades existentes no País, conclui-se que a Educação a Distância deve ser cada dia mais utilizada na educação brasileira, proporcionando um aprendizado tecnologicamente rico, permitindo aos alunos acesso a uma grande variedade de mídias, bem como a um grande número de fontes de educação, possibilitando a supressão das distâncias geográficas, econômicas, sociais e culturais, permitindo-lhes organizar o seu tempo de estudo e  universalizando as oportunidades de aprendizado.

Não reconhecer a EAD como uma forma de ensino alternativo que traz grandes benefícios ao processo de ensino-aprendizagem é, no mínimo, uma posição conservadora, que trará prejuízos para toda sociedade. É possível ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de comunicação virtual.





Referências

ARNOLD, S. B. T. Certificados são reconhecidos. Clipping Educacional, Belo Horizonte, p.3, set. 2002.



CASTRO, A. L. B. Educação a distância: princípios e fundamentos. Apresentado em Congresso. Belém, 1997.



KEEGAN, S. D. et al. Distance Education International Perspectives. London: Routllege, 1991.



MORAN, J. M.; MASSETO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 8.ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2004.



NUNES, I. B. Noções de educação a distância. Revista Educação a Distância. Brasília, n.4/5, p.7-25, dez.93-abr.94. Disponível em: <http://www.rau-tu.unicamp.br /nou-rau/ead/document/?code=3>. Acesso em: 16 nov. 2004.



OLIVEIRA, A. C. Educação a distância: uma opção do nosso tempo. Gestão Universitária. São Paulo, 25 abr. 2005. Disponível em: <http://www.gestaouniversitaria.com.br/index.php?origem=opiniao&idsec=1&pos=110>. Acesso em: 16 jun. 2005.



RODRIGUES, L. Novo endereço do campus: o computador. Ensino Superior, Seção Educação a Distância, São Paulo, ano 5, n. 48, p. 12-14, set. 2002.



TAJRA, S. F. Comunidades virtuais: um fenômeno da sociedade do conhecimento. São Paulo: Érica, 2002.



TAQUARI, C. Universidade on-line derruba fronteiras. Ensino Superior, Seção Entrevista, São Paulo, ano 6, n. 62, p. 22-28, nov. 2003.



VIEIRA, E. Quer um diploma? Use o mouse! Info Exame, Carreira ensino a distância, São Paulo, n. 199, p. 104-105, out. 2002.



[1] Acadêmica de Licenciatura em Pedagogia a Distância LPD - UFPEL Pólo Cerro Largo RS. zéliamirek@via-rs.net
[2] Acadêmica de Licenciatura em Pedagogia a Distância LPD - UFPEL Pólo Cerro Largo RS. olgamsmedeiros@gmail.com
[3] Mestre em Engenharia da Produção – UFSM RS. airton@iesanet.com.br

sábado, 28 de julho de 2012

Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire

                              Resenha Crítica 
                                                                                                          Zélia Maria Mirek
          Paulo Freire pensa a existência. É um pensador comprometido com a vida. Em seu livro Pedagogia do Oprimido reporta-se aos cinco anos que passou no exílio. Apresenta um papel de conscientização para uma educação realmente libertadora. A prática da liberdade só encontrará adequada expressão numa pedagogia em que oprimido tenha condições de reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria destinação histórica. Em sua escrita ressalta o direito do ser humano, o trabalho livre e a afirmação da pessoa. Algumas contradições se fazem presente, quando relaciona os oprimidos e opressores, quando a violência desumaniza os opressores, passando aos oprimidos a condição de lutar contra quem os fez inferiores. Uma luta que somente tem sentido quando os menores buscam a sua humanidade. “a violência dos opressores, que os faz também desumanizados, não instaura uma outra vocação - a do ser menos” (p.30).
         A Pedagogia do Oprimido apresenta-se como pedagogia do homem. Onde somente ela pode se fazer generosa, verdadeira, humanista e não "humanitarista", tudo para alcançar os objetivos. Diferente da Pedagogia que surge dos interesses pessoas e egoístas dos opressores, disfarçada na falsa generosidade. “Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado
terrível de uma sociedade opressora?”(p 31).
        A pedagogia humanizadora somente será possibilitada, quando houver a união entre teoria e prática. Entre a liderança revolucionária e os que estabelecem uma relação dialógica. Alcançando esta fase busca saber da realidade. Assim a presença dos oprimidos na busca de sua libertação, mais
que falsa participação, é o que dever ser: engajamento. “A pedagogia do oprimido que, no fundo, é a pedagogia dos homens empenhando-se na luta por sua libertação, tem suas raízes aí. E tem que ter nos próprios oprimidos, que se saibam ou comecem criticamente a saber-se oprimidos, um dos seus
sujeitos.”(p.40)
         A situação concreta de opressão e os opressores, é que os opressores de ontem não se reconhecem em libertação. “Pelo contrário, vão sentir-se como se realmente estivessem sendo oprimidos” (p.44). Esta violência passa de geração a geração, tornando-se legatários e formando o clima geral.
          Na situação concreta de opressão e os oprimidos, “há em certo momento da experiência existencial dos oprimidos, uma irresistível atração pelo opressor. Pelos seus padrões de vida. Participar destes padrões constitui uma incontida aspiração. Na sua alienação querem, a todo custo, parecer com o opressor. Imitá-lo. Segui-lo. Isto se verifica, sobretudo, nos oprimidos de “classe média”, cujo anseio é serem iguais ao “homem ilustre” da chamada “classe superior”.(p.49).
          Ninguém liberta ninguém, ninguém liberta sozinho: Os homens se libertam em comunhão e “somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua “convivência” com o regime opressor” (p.52). O movimento para a liberdade deve surgir a partir dos próprios oprimidos, e a pedagogia decorrente será a que tem forjado e esteja inserida na luta incessante de recuperação de sua humanidade.
          Em uma critica a concepção “bancária” da educação como instrumento da opressão, Paulo Freira escreve que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em “vasilhas”, em recipientes a serem enchidos pelo educador (p.57). A doação manifesta nos instrumentais de ideologia da opressão a pura absolutização da ignorância, que constitui-se da alienação da ignorância. E na concepção problematizadora e libertadora da educação, Freire aponta que a ”A educação “bancária”, em cuja
prática se dá a inconciliação educador- educandos, rechaça o companheirismo. Na educação bancária o educador é sempre o que sabe, enquanto os educandos serão os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como processo de busca. E é lógico que seja assim. No momento em que o educador “bancário” vivesse a superação da contradição já não seria mais “bancário”(p.68).
           Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo, “em verdade, não seria possível à educação problematizadora, que rompe com os esquemas verticais característicos da educação bancária, realizar-se como prática da liberdade, sem superar a contradição entre o educador e os educandos. Como também não lhe seria
possível fazê-lo fora do diálogo” (p.68). Em outro momento Paulo Freire escreve que educar é impregnar de sentido o que fizemos a cada instante. E aí estamos diante de uma educação prática de liberdade e talvez de uma nova escola. Uma escola com proposta de atingir as necessidades e interesses dos alunos, formando um homem contemporâneo dispostos a aprender, a conhecer, a descobrir, formando adultos que façam a mediação do conhecimento, oportunizando, além da aprendizagem cognitiva, tornar as relações sociais importantes estruturando uma personalidade saudável. Neste sentido é importante perceber que Freire introduz o conceito de consciência, como exercício intencional de compreensão da realidade.
           “A concepção e a prática “bancárias”, imobilistas, “fixistas”, terminam por desconhecer os homens como seres históricos, enquanto a problematizadora parte exatamente do caráter histórico e da historicidade dos homens” (p 72), com uma necessidade de educação permanente para transformar a realidade, devendo então mudar as relações dentro da escola e a forma os conteúdos e as práticas são desenvolvidas no espaço escolar.
            A necessidade de rever a educação e a forma como ocorre o diálogo entre os envolvidos, pois não há diálogo sem um profundo amor ao mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não há amor que a infunda.
            Neste ponto, Freire (p.83) aponta que a ”a inquietação em torno do conteúdo do diálogo é a inquietação em torno do conteúdo programático da educação. Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o contudo programático da educação não é uma doação ou uma imposição – um conjunto de informes a ser depositado nos educandos -, mas a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada. Educar neste momento é desejar avançar, colocar-se em movimento de abertura ao novo, para as dúvidas, para o novo saber.
             A falta de uma compreensão crítica para captar em “pedaços nos quais não reconhecem a interação constituinte da mesma totalidade” (p.95), considerando sempre a evolução do homem. Contudo, o papel da Escola precisa ser constantemente repensado; ela precisa se reposicionar frente ao dinâmico e complexo sistema de valores de uma sociedade. É sabido que a educação deve ser norteada pelo foco na aprendizagem, no "aluno" e seu contexto.
             Na investigação temática, que se dá no domínio do humano e não no das coisas, não pode reduzir-se a um ato mecânico (p.100). Faz necessário investigar e rever as visões da realidade, ou seja, a totalidade, instituindo o tema gerador. È o pensar da própria condição de existir para investigar a temática, trabalhando em equipes interdisciplinares, observando os pontos fixados pelos vários investigadores encontrando as situações limites que envolvem o tema. A investigação da temática envolve investigação do próprio pensar. Pensar que não se dá fora dos homens, nem num homem só, nem no vazio, mas nos homens e entre os homens, e sempre referido a realidade. O método Paulo Freire não ensina a repetir aquilo que já existe. Seu método coloca o alfabetizando em condições de poder re existir criticamente as palavras de seu mundo, para na oportunidade devida, saber e poder dizer a sua palavra.
             E quando “não é possível o diálogo com as massas populares antes da chegada ao poder, porque falta a elas experiência do diálogo, também não lhes é possível chegar ao poder, porque lhes falta igualmente experiência dele” (p.134). Para Freire vale para a palavra o mesmo que para a realidade: a dimensão da ação e a dimensão da reflexão, sem dimensão da ação tem-se o verbalismo, sem a reflexão o ativismo. A palavra é ato libertador, controlá-la sobre palavra-mundo, torna a chave essencial de domínio dos mecanismo de poder.
            Neste sentido, a conquista crescente do oprimido pelo opressor aparece como um traço marcante da ação antidialógica e sendo a ação libertadora dialógica em si, não pode ser o diálogo uma a posteriori seu, mas um concomitante dela. Mas, como os homens estarão sempre se libertando, o diálogo se torna um permanente da ação libertadora, com o desejo de conquista, maior que o próprio desejo. A necessidade da conquista acompanha a ação antidialógica em todos os seus momentos.”
            Neste ponto, a solidariedade nasce no testemunho que a liderança dá ao povo, no encontro humilde, amoroso e corajoso. Nem todos tem a mesma coragem porém, na medida em que, as minorias, submetendo as a maiorias a seu domínio, as oprimem, dividi-las e mantê-las divididas são condição indispensável à continuidade de seu poder.
            Toda a ação cultural é sempre uma forma “sistematizada e deliberada de ação que incide sobre a estrutura social, ora no sentido de mantê-la como está ou mais ou menos como está, ora no de transformá-la” (p. 183), para que “finalmente, a invasão cultural, na teoria antidialógica da ação, sirva de manipulação que, por sua vez, serve à conquista e esta à dominação, enquanto a síntese serve à organização e sesta à libertação.”

Conclusão
            O trabalho de Paulo Freire, em Pedagogia do Oprimido, pode ser visto como um processo de conscientização, um tema que leva em consideração a natureza política da educação. O autor adverte que vivemos em uma sociedade onde se destacam os opressores e os oprimidos, situação que precisa ser modificada e cada sujeito deve buscar a superação de seus problemas com criatividade.
            Para o autor, o objetivo da educação deveria ser a liberdade, que resultaria na transformação social e no conhecimento crítico do mundo, fazendo ressaltar o direito do ser humano, a liberdade ao trabalho e a afirmação das pessoas. E quando se trata jovens e adultos, estes devem ter a consciência de que.é possível mudar, deixando de ser oprimidos e passando a ser agentes transformadores.
            Ao ressaltar a educação “bancaria”, percebe-se a manipulação de pensamentos com um único objetivo oprimir. E ao afirmar que “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho…, ele quer dizer que os indivíduos não são caixas onde se deposita conhecimentos, mas sim um seres que podem recriar e transformar o mundo com o seu novo conhecimento.


Bibliografia
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 26ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.